Desafio bíblico Betel 2014
Fabiana de Oliveira Ribeiro - Alterosa MG
Descensus?
É necessário, a princípio, esclarecer que a expressão "desceu
ao Hades" se referindo a Cristo não é encontrada em nenhum lugar das
escrituras, embora seja afirmado que ele desceu a regiões inferiores(Ef 4.9) e tenha aparecido em dois credos da igreja
cristã, o Credo Apostólico(desceu ao Hades) e o Credo de Atanásio(regiões inferiores).
Este é um tema teologicamente conflitante que causou divergências até entre
grupos análogos como por exemplo os adeptos da reforma radical que viam o descensus sob três perspectivas
escandalosamente diferentes. Assim verifiquemos o pensamento de alguns grupos:
A grosso modo, segundo a tradição católica e até Anglicana,
Jesus teria descido ao limbus patrum
ou Seio de Abraão, lugar intermediário entre céu e inferno(como se isso
existisse), para conceder às almas dos santos do Antigo Testamento os
benefícios de seu sacrifício expiratório. Para os crentes nessa teoria, Jesus
desceu ao setor do Hades onde estavam os bons e não teve contato com os ímpios.
Essa ideia tornou-se popular na idade Media, bom lembrar que se tratava da Era da Trevas.
Lutero, por sua vez, afirmava que a descida de Cristo ao
Hades fora realizada com o propósito de
levar cativo o cativeiro, e que é a primeira manifestação vitoriosa do Senhor,
mas esse "triunfo" torna-se difícil de ser crido, pois Cristo ainda
não havia manifestado sua vitória e, além do mais, Lutero ora fala do assunto
por termos metafóricos, ora por literais, não sendo precisamente claro.
Já para os arminianos, Jesus desceu ao Hades com a finalidade
de ceder uma segunda oportunidade àqueles que se encontravam lá, seja por que
não tiveram oportunidade de conhecer a verdade em vida ou por terem muitos
piedosos morrido antes do sacrifício que Jesus teria feito por todos os homens.
Essa visão nasce da equivocada interpretação de 1 Pedro 3:18 a 20, eles afirmam
que o evangelho foi pregado aos espíritos na prisão do Hades, mas ignoram que
os santos do Antigo Testamento já haviam crido no Messias e estavam
justificados(Rm 4:3; Gl 3. 6 a 9) o que torna desnecessária essa evangelização.
Na mesma carta, Pedro afirma a natureza ilimitada, cheia de poder de Cristo e
que estava presente nos pregadores e profetas dos tempos antigos(1Pe 1.11).
Todavia, para a visão reformada, liderada por Calvino, Jesus
viveu a experiência das dores do inferno na alma, enquanto estava pregado na
cruz. Sentiu todo o peso da ira divina em lugar dos seres humanos, o que se
traduz no abandono de Deus. Com respeito a 1 Pedro 3:18 a 20, acredita-se que
os espíritos em prisão, contemporâneos a
Noé tiveram sua oportunidade pela pregação de Cristo através do próprio
Noé, enquanto fazia a arca. Contudo, foram endurecidos suficientemente, ao
ponto de Deus não precisar abrir uma nova oportunidade, no Hades.
Desta forma, crer
nesse evangelismo no inferno é tão fantasioso quanto crer que os apóstolos
também ali desceram, como achava Clemente de Alexandria. Não se pode distorcer
as verdades bíblicas em prol das almas perdidas. Quando Jesus morreu, entregou
seu espírito ao Pai(Luc 23.46); do mesmo modo afirma ao ladrão: "hoje
mesmo estarás comigo no paraíso"; também exclamou: "está
consumado"(Jo 19.30). Ele não precisaria ir ao inferno completar sua obra
de redenção, seu sacrifício na cruz é suficientemente poderoso. Por isso, Jesus
esteve com o Pai durante os três dias que antecederam sua ressurreição. Portanto
o foco desse assunto deve ser o ensino das escrituras, não a afirmação credal.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, Heber Carlos. Descendit ad inferna: Uma análise da
expressão"desceu ao Hades" no cristianismo histórico. Fides
Reformata, 1999.
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